Cineclube na Escola Experimental de Cinema da EMEIF José Albino Pimentel

Desnecessário é realçar o uso das tecnologias da informação e comunicação no processo ensino e aprendizagens, especialmente no espaço escolar, porque a dinâmica nesse cenário impõe a compreensão da importância dessas ferramentas. Imersos no contexto hegemônico de globalização em que as ferramentas tecnológicas estão cada vez mais a serviço do fortalecimento do capital, nosso olhar nesses últimos meses centrou-se na discussão acerca da dimensão político pedagógica do cinema na escola, a partir das experiências vivenciadas na Escola Experimental de Cinema na EMEIEF José Albino Pimentel e seus desdobramentos educacionais na dinâmica escolar, mais especificamente no ano de 2017. Com o recorrente uso da linguagem cinematográfica trazendo novos contornos à rotina escolar; olhar para a realidade cultural, social, econômica e política da comunidade Gurugi-Ipiranga, tornou-se uma constante em nossos diálogos e práticas. Reconhecemos que o cinema enquanto arte carrega consigo um poder potencializador de descobertas, percepções e relações com o meio e com o outro, assim, paulatinamente, fomos nos entregando as novas possibilidades de criação e compreensão da nossa realidade.

Desnecessário é realçar o uso das tecnologias da informação e comunicação no processo ensino e aprendizagens, especialmente no espaço escolar, porque a dinâmica nesse cenário impõe a compreensão da importância dessas ferramentas. Imersos no contexto hegemônico de globalização em que as ferramentas tecnológicas estão cada vez mais a serviço do fortalecimento do capital, nosso olhar nesses últimos meses centrou-se na discussão acerca da dimensão político pedagógica do cinema na escola, a partir das experiências vivenciadas na Escola Experimental de Cinema na EMEIEF José Albino Pimentel e seus desdobramentos educacionais na dinâmica escolar, mais especificamente no ano de 2017. Com o recorrente uso da linguagem cinematográfica trazendo novos contornos à rotina escolar; olhar para a realidade cultural, social, econômica e política da comunidade Gurugi-Ipiranga, tornou-se uma constante em nossos diálogos e práticas. Reconhecemos que o cinema enquanto arte carrega consigo um poder potencializador de descobertas, percepções e relações com o meio e com o outro, assim, paulatinamente, fomos nos entregando as novas possibilidades de criação e compreensão da nossa realidade.

Ao resgatarmos nossas experiências com a linguagem audiovisual, em particular o cinema, após a implementação da ECC (Escola Experimental de Cinema) pela equipe do grupo Semente Cinematográfica em parceira com o projeto Inventar com a Diferença: Cinema, Educação e Direitos Humanos (da Universidade Federal Fluminense – RJ, e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), percebemos que nos limitávamos ao uso de vídeos para ilustração de mensagens nos momentos de formação junto aos professores e planejamento com os profissionais da escola, entretenimento e ilustração para ministração de conteúdos na sala de aula. Não negamos que é possível vivenciar essas práticas, mas reconhecemos que seu campo de possibilidades é bem maior do que poderíamos imaginar.

Assim, de forma respeitosa, fomos entrando em contato com novas formas de conceber o cinema e, para isso, uma das atividades desenvolvidas pelos mediadores do projeto na escola foi o cineclube. A proposta de reunir todos os alunos por turno, em um único lugar para assistirem à exibição de filmes e, em seguida, abrir para reflexão, pareceu-nos muito estranha – Conceder-lhes a fala com todos juntos? Não! Não! Não! Isso não vai dar certo! – Mas, em pouco tempo ficamos convencidos de que seria possível. Os alunos durante os ateliers de criação ao assistirem filmes e dialogarem sobre eles, perceberam que em conjunto não seria diferente o diálogo se tornava muito mais rico. É claro que o desejo de falar de forma concomitante aos colegas acontecia, mas não inviabilizava o diálogo a respeito daquela vivência. Parar para ouvir é um desafio para a maioria de nossas crianças, especialmente porque o desejo de compartilhar o que sentem e pensam imediatamente é tão espontâneo, quanto à ausência de maturidade de saber que é sábio discernir o tempo da escuta e fala. Assistir aos filmes na prática do cineclube demanda necessariamente uma posterior reflexão sobre os mesmos. Nesse sentido,  Duarte (2002, p. 17) ressalta que,  “ ver filmes, é uma prática social tão importante, do ponto de vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leituras de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais.”

Uma das sessões de cineclube mais marcante aconteceu com a exibição de filmes de curta-metragem, todos tratando da temática brincadeiras na infância. Essa escolha foi motivada pelo interesse em promover um espaço de diálogo acerca da ausência do tempo destinado a recreação das crianças na rotina escolar.

Inicialmente, realizamos um levantamento das brincadeiras vivenciadas pelas crianças em todas as salas nos dois turnos. Durante o diálogo descobrimos um amplo repertório de brincadeiras populares e muitas vezes na mesma brincadeira, percebemos inclusões sutis de novas regras. Após esse diálogo, foram produzidos, pelo aluno,  cartazes com desenhos referentes aos diversos tipos de brincadeiras levantados e expostos em sala de aula. Em seguida, conforme acordado em planejamento realizado com os professores, foi oportunizado a vivência das brincadeiras elencadas pelos alunos.

Vivência de brincadeiras realizada após a sessão de cineclube da Escola Experimental de Cinema da EMEIF José Albino Pimentel, no quilombo do Gurugi-Ipiranga, Conde/PB (2017)

Durante a exibição dos filmes os olhares atentos e o sorriso sinalizavam que aquelas cenas eram muito familiar. Ao término da exibição um coro tomou conta do salão –  Queremos recreio! Queremos recreio! Queremos recreio! – Difícil foi conter os ânimos. Os alunos envolvidos pela consciência de que brincar é um direito, de forma espantosa reivindicaram esse direito. Os filmes tornaram isso tão claro, que o grito preso na garganta saiu de forma uníssona. Nesse sentido, Migliorin (2015, p. 35)  esclarece, “O cinema é transformação contínua do que há. Pelo menos nos bons filmes, o mundo não está separado de um desejo de mundo.”

Mas, como administrar o brincar sem espaço físico suficiente, argumentávamos para eles. Sem demora, os alunos declararam que a escola tinha sim, a sala de aula, o corredor, o salão, a área aberta. Claro que havia, diziam eles. De fato, é possível otimizarmos os espaços físicos disponíveis na escola, mas, agrupar todos em um único momento para recreação, com a diversidade de faixa etária, significaria correr o risco de promover, ainda que de forma não intencional, possíveis acidentes. Assim, a solução encontrada foi elaborarmos uma agenda semanal contemplando um dia para cada turma. A experiência deu certo. Não é o ideal, mas conseguimos com a participação das crianças resolver essa problemática e com isso assegurar esse direito e fazê-los entender o sentido da recreação.

Um outro aspecto importante nas sessões de cineclube foi o envolvimento dos professores, supervisão e gestão escolar. Assistíamos aos filmes juntos com as crianças e era impossível não ampliar a discussão na sala de aula. Naturalmente os filmes exibidos no cineclube se faziam presente na aula, nas conversas entre os estudantes e no diálogo entre professores/professores, professores/alunos, professores/supervisoras. O espaço para reflexão dos filmes exibidos não se restringiram ao espaço ofertado pelo mediador após a exibição da sessão. Corroborando com essa prática, Migliorin (2015, p. 51) ressalta:

“No caso do cinema na escola, é pela experiência que o professor pode sair do lugar daquele que ensina para experimentar com os alunos – um deslocamento que se faz essencial para uma dinâmica mais horizontal da produção do conhecimento. Até mesmo o gesto de ver o filme, com todos – professores e alunos – virados para o mesmo lado, já traduz a horizontalidade da experiência do cinema.”

Para fortalecer a experiência do Cineclube, ao longo dos dois semestres, participamos de três sessões no projeto Cine Recreio, que consiste na exibição de filmes para escolas no Cine Bangüê, no Espaço Cultural em João Pessoa. A oportunidade foi ímpar, algumas crianças entraram pela primeira vez em um cinema. A alegria foi contagiante. A mediadora da sessão fez a abertura esclarecendo as normas a serem respeitadas naquele espaço, ressaltou de forma breve o conteúdo dos filmes, convidando-os a uma reflexão após exibição. Olhares atentos capturavam cada cena, e na fala durante a reflexão o caráter subjetivo revelou-se na priorização das cenas escolhidas a serem compartilhadas.

Sessão do Cine Recreio com os estudantes EMEIF José Albino Pimentel realizado no Cine Bangüê / Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa/PB (2017)

Nesse movimento, o ambiente por si só despertou a curiosidade, a reflexão, o encantamento. O som, o silêncio, a iluminação, a trilha sonora, as imagens em movimento, esse conjunto de elementos despertou sentimentos, reflexões e desejos. Essa experiência ficou guardada na memória das crianças, sendo compartilhada por um longo tempo nas salas e corredores da escola pelos alunos e professores.

Na escola, a última sessão de cineclube contou com a participação de Cezar Migliorin e Douglas Rezende, ambos professores de Cinema do Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Federal Fluminense, sendo o professor Migliorin o coordenador do projeto Inventar com a Diferença: Cinema, Educação e Direitos Humanos. Nessa oportunidade, exibimos trechos dos sete filmes produzidos pelas crianças durante as atividades no projeto ECC, exatamente porque estávamos em fase de finalização. Para as crianças foi surpreendente, pois elas haviam assistido suas produções em sala junto a seu professor, não conheciam o conteúdo dos filmes produzidos pelas outras turmas.

Nessa perspectiva, socializar essa experiência foi maravilhoso. Nossos convidados ficaram encantados com o potencial manifestado naquela produção. Realizamos em seguida uma roda de conversa com os professores da escola, gestora, supervisora e os professores visitantes, momento em que socializamos nossos desafios e avanços. Dias depois da visita o professor Cezar Migliorin publicou uma matéria no site do projeto Inventar com a Diferença, compartilhando suas impressões sobre a experiência vivenciada na escola.

Nesse transcurso pedagógico, esperamos que durante o ano de 2018  a continuidade do projeto de cineclube na escola ganhe novas experiências, compartilhe novos saberes e fortaleça a democratização da educação em nosso município. Para finalizar este, usamos a fala do professor Cezar Migliorin, “Experimentar a criação do outro é experimentar o mundo se inventando, eis uma radicalidade da arte.” (2015, p.52).

Referências:

DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

FRESQUET, Adriana. Cinema, infância e educação. Disponível em < http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3495–Int.pdf> Acessado em 11.01.18.

GRAVATÁ, André et al. (2015). Movimento Entusiasmo em Virada Educação. Disponível em <http://viradaeducacao.me/arquivos/livreto_virada_educacao_movimento_entusiasmo.pdf>  Acessado em 11.01.18.

MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente Cinema: educação, política e Mafuá. 1. Ed. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.


Por Valdenise Nogueira

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