Fazer ou exibir filmes?

Por Ana Bárbara Ramos

Muitas questões podem surgir quando um professor ou professora se interessam em levar o cinema para dentro da escola, sobretudo quando o que está em jogo é a ideia de desenvolver uma atividade de cinema de forma regular no ambiente escolar. Que tipo de prática realizar, fazer ou exibir filmes? A segunda opção se configura como uma boa alternativa para introduzir o cinema na escola.

A exibição dentro do processo do cinema é uma etapa fundamental, pois é justamente o momento em que a obra finalmente pode encontrar o público. E num país como o Brasil em que a exibição de cinema apresenta algumas restrições (preço alto dos ingressos, a predominância de um tipo de cinematografia, ausência da produção de cinema brasileiro), organizar uma sessão de cinema na escola pode tornar acessível não só as obras como também introduzir uma prática de assistir a filmes coletivamente e despertar novos olhares para o cinema, cultura e arte. E para isso, os professores podem ter a seu favor, a pouco conhecida Lei 13.006/14 que obriga todas as escolas de educação básica a exibirem no mínimo duas horas de cinema nacional por mês como componente curricular complementar. A lei foi sancionada no governo de Dilma Roussef e tem como foco ampliar o acesso às obras do cinema nacional, fazendo com que os filmes nacionais deixem de ser desconhecidos dentro do próprio país.

Se você está interessado em organizar uma sessão de cinema na sua escola, temos algumas dicas que podem auxiliá-lo nessa missão. Em primeiro lugar, saiba que cineclube é o nome dessa sessão regular de exibição. O cineclube é uma ação que estimula os participantes a ver, discutir e refletir sobre o cinema. As sessões são organizadas com um interesse cultural e não visam um lucro financeiro. faz parte do circuito alternativo de exibição e normalmente exibe filmes que estão fora do circuito comercial, no caso, as salas de cinema. É uma ação que pode muito bem se adequar ao cotidiano da escola e envolver os estudantes, outros professores, funcionários e até a direção da escola.

Sessão de cineclube realizada na Escola Experimental de Cinema da EMEIF José Albino Pimentel, no quilombo do Gurugi-Ipiranga, Conde/PB (2017)

Montar um cineclube e organizar pequenas sessões é uma tarefa mais fácil do que se imagina. Para isso é necessário ter um kit minimo de exibição que é composto por tela de projeção, videoprojetor, reprodutor de DVD ou computador e caixas de som. Depois escolher um local para organizar uma sessão em que se possa manter a qualidade da imagem e do som. O ideal é que sala seja protegida da luz direta do sol e que tenha um mínimo de silêncio. As sessões podem acontecer semanal ou mensalmente, a escolha da periodicidade vai depender da disponibilidade de tempo para escolher e programar os filmes, divulgar, articular o público e claro, da autorização da direção da escola. Segue o link do tutorial.

Para chegar aos filmes é necessário formar um amplo repertório de referências, o que implica, neste caso, assistir, assistir e assistir a muitos filmes. A partir disso, é possível praticar a atividade de curadoria, ou seja, começar fazer a escolha dos filmes que serão exibidos no cineclube.

Com isso, chegamos a uma questão muito importante dessa atividade, o acervo de filmes. O interessante é pensar na possibilidade de organizar um acervo em que se preze pela diversidade de tipos de filmes, não só exibir filmes que passam frequentemente na TV. Fazer cineclube na escola é pensar na pluralidade dos temas, de filmografia, de escolas de cinema. Existem diversos sites em que se pode ter acesso à produção de filmes brasileiros e de outras cinematografias. Um deles é o Porta Curtas, site destinado a produção de curtas-metragens que possui um super acervo para consulta via streaming, para assistir online. Ele serve como um banco de referência para conhecer o que está sendo produzido no Brasil, uma vez que não se tem acesso para baixar os filmes. Pensando no uso educativo de alguns filmes contidos no site, o Portacurtas desenvolveu o projeto Curta na Escola para promover e incentivar o uso de curtas-metragens brasileiros como material de apoio pedagógico em salas de aula. Neste site é possível fazer o cadastro e solicitar o envio da coleção Curtas na escola, que compreende 3 volumes.

Outro site interessante é o Videocamp, uma plataforma de filmes de longa e curta duração online e gratuita. Neste site é possível fazer o cadastro e ter acesso aos filmes online. Tem um material de apoio bem elaborado e destinado para as escolas.

O curta-metragem é um formato interessante para trabalhar na escola, pelo tempo de duração dos filmes que normalmente variam de 1 a 20 minutos, Assim é possível organizar pequenas sessões temáticas agrupando 3 a 4 filmes e ainda realizar o debate com o público com folga, pois a sessão toda pode durar entre 1h30 e 2h. Se optar por exibir longa, o tempo destinado para o debate fica mais restrito por que, a depender do filme, esse tempo pode ser consumido apenas com a exibição.

De posse do acervo é possível começar as atividades do cineclube. É importante destacar a necessidade de estimular uma conversa após os filmes, por isso sugiro que que o programador da sessão conheça os filmes antes de exibí-los para poder dar subsídios ao público e estimular o debate. Agora é só fazer a pipoca, apagar as luzes e começar a sessão!

Outras referências para pesquisar:

Curta O Curta
Informações e exibição de curtas-metragens.

Cineclube
Site com informações sobre cineclubismo (cronologia, textos para download, links).

Conselho Nacional de Cineclubes
Site com informações e dados sobre o cineclubismo brasileiro.

Tintin Cineclube
Site do cineclube mais antigo em funcionamento em João Pessoa/PB

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