Em outubro de 2017, recebemos a visita de Cezar Migliorin e Douglas Resende, representantes do projeto Inventar com a Diferença: Cinema, Educação e Direitos Humanos. Esse encontro ocorreu semanas antes da conclusão dos filmes produzidos pela Escola Experimental de Cinema na EMEIF José Albino Pimentel, e possibilitou um encontro de todos os agentes envolvidos no projeto em uma sessão do cineclube da escola.
No texto abaixo, divulgado no site do projeto Inventar com a Diferença, os professores da UFF compartilham suas impressões sobre essa visita.
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Escola Experimental de Cinema em Conde, Paraíba
por Douglas Resende e Cezar Migliorin
Nos últimos anos, nos acostumamos a receber filmes surpreendentes feitos em escolas do município do Conde, contíguo a João Pessoa, na Paraíba. Com frequência, eram filmes com uma intensa carga criativa e forte participação de crianças bem jovens.
O processo desses filmes era mediado por Ana Bárbara, uma talentosa cineasta paraibana.
Em meados de outubro, tivemos a possibilidade de conhecer a escola José Albino Pimentel, onde grande parte do projeto tem se concentrado.
Trata-se de uma escola de nível fundamental I com pouco mais de 200 alunos e 12 professores, situada nas proximidades de um quilombo, em uma área que traz marcas de um espaço rural, mas também da periferia de uma grande cidade – João Pessoa.
A singularidade dessa experiência ali é o fato de ter sido criada uma “escola experimental de cinema” no interior da própria escola. “Uma escola dentro da escola”, como nos disse uma das professoras envolvidas. Aos poucos, a partir da introdução do audiovisual na rotina escolar e da mobilização e engajamento de muitos professores, pensou-se na possibilidade de um espaço exclusivamente para o cinema, como um laboratório de imagens. Ali se faz e se assiste filmes, empresta-se DVDs e até uma funcionária exclusivamente dedicada à Escola Experimental de Cinema foi deslocada para lá.
Além de ter a quase totalidade da escola participando da experiência, surpreende a forma como o cinema transita por atividades e interesses muito distintos entre os professores. Com uma força documental, o cinema é parte das atividades do professor que trabalha com o Coco de Roda e também da professora mais atenta aos modos de vida rurais, a relação com as plantas e seus cultivos, por exemplo.
Ainda na UFF, alguns dias antes de irmos à escola, assistimos a alguns dos filmes mais recentes feitos pela comunidade de professores e alunos da escola José Albino Pimentel. Em um deles, nos divertimos com a forma de uma criança apresentar as hortaliças. Já no Conde, nos reunimos com professores, crianças e funcionários para assistir os filmes. Com todos sentados no chão, acompanhamos os registros naquela típica relação entre atenção e desatenção das crianças com as imagens. Impossível exigir silêncio e alguma ordem a dezenas de crianças daquela idade reunidas num mesmo espaço. A algazarra de vozes e brincadeiras se confundia com os sons dos registros projetados. Por vezes, tínhamos a impressão de que estavam distantes do filme, mas quando chegamos à cena que nos fez rir no Rio, uma surpresa: ali também, a gargalhada foi geral. Não só todos estavam atentos, como o que fazia rir os professores da UFF era a mesma coisa que fazia os meninos e meninas de 8, 9 anos da escola na Paraíba rirem também.
Eram evidentes a alegria e o contentamento das crianças por estarem diante daquelas imagens da própria comunidade e, sobretudo, diante de planos e sequências criados por elas mesmas. Essa experiência de ver juntos os filmes feitos ali nos evidenciava como o cinema ligava as crianças à própria comunidade, criava um novo laço entre os membros mais velhos (os filmados) e os mais jovens (que os filmam).
Metodologicamente, essa singular experiência em Conde explicita a importância do engajamento de toda a escola com um projeto como esse. A construção de um espaço, o envolvimento sincero de muitos professores e o engajamento também da direção permitem a intensificação das experiências com o cinema, do debate sobre as imagens, da descoberta do território e da sua história, do envolvimento com a comunidade e a família e, sobretudo, com a própria criação das crianças.
Se, por um lado, o cinema transita pela escola, pode estar em tantos lugares, assuntos e experiências, por outro, a constituição de um espaço – essa “escola dentro da escola” – parece dar a força e a continuidade necessárias para um pleno desenvolvimento de suas possibilidades.
Fonte: http://www.inventarcomadiferenca.org/pedagogia/escola-experimental-de-cinema-em-conde-paraiba/
Nota Semente
O processo de implementação da EEC foi realizado pelo grupo Semente Cinematográfica durante a segunda edição do projeto Inventar com a Diferença: Cinema, Educação e Direitos Humanos (Universidade Federal Fluminense – RJ, e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), e contou com o apoio do Tintin Cineclube, do Centro de Artes do Estado da Paraíba (Cearte), do Grupo de pesquisa em Jornalismo, Gênero e Educomunicação da UFPB e da Prefeitura Municipal do Conde.
Para saber mais informações sobre o projeto, clique aqui.